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Sua caneta não te obedecia mais, estava há horas pensando em como escrever aquilo, mas não conseguia. O máximo que conseguia eram alguns rabiscos, mas saía coisas tão desprezíveis que simplesmente jogava fora sem nem reler, chegava a ser vergonhoso. Largou o caderno de lado um pouco e tragou seu cigarro, se alguém passasse pelo corredor agora e sentisse o cheiro, ele estaria perdido. Entretanto, a culpa dele estar naquele estado não era dele, se ele fumava, usava algumas drogas leves e vivia bebendo não era dele, aguentava aquela pressão toda havia seis meses, e piorou quando perdeu sua criatividade, mais ou menos dois meses antes desse dia. A culpa era inteiramente de sua família.
Aquela casa havia se tornado insuportável, sua mãe vivia exigindo responsabilidade, seu pai era ausente, não fazia nada e não dizia nada, seu irmão mais velho não fazia nada e era o orgulho da mãe, por ter cursado em uma faculdade boa, sua irmã mais nova era mimada e queria que fizesse tudo para ela, e quando não fazia, seus pais brigavam. Ele estava começando a entrar no mundo adulto e tudo aquilo acontecendo a sua volta não era bom. Seus pais discutindo sempre, sobrando para ele lidar com a raiva, já que seus irmãos não se importavam. O clima daquela casa não era mais suportável para ele, tinha atingido o limite, foi aí que recorreu ao cigarro e à bebida. Ele já estava tão acostumado a ninguém se importar de verdade com o que ele sente, que nem se surpreendeu quando ninguém notou o quanto ele tinha mudado.
No momento, estava sozinho em casa, por isso fumava um tanto despreocupado. Sua família tinha ido ao cinema, como ninguém se preocupou em chamá-lo, ele permaneceu em seu quarto. Porém, ele não se importava disso acontecer, era bom para ele, já que tinha um pouco de sossego e podia roubar o dinheiro dos pais sem correr o risco de ser pego. Olhou mais uma vez para o seu violão dentro da capa, o único presente que sua família lhe dera que realmente gostou e que não era camisa, ainda lembrava-se da felicidade que sentiu ao receber. Tragou mais uma vez, soprando a fumaça para cima e olhando ela se dissipar, pegou seu caderno novamente e olhou para a página, não conseguia pensar em nada para escrever.
- Quer saber? Foda-se essa merda – Rabiscou três palavras numa folha, arrancou e prendeu uma fita adesiva no fundo – Se duvidar, eles nem vão ler mesmo... – Dizia para si mesmo.
Abriu uma gaveta, pegou uma parte do dinheiro que havia roubado e não tinha usado, colocou dentro da capa do violão, pegou seu maço de cigarros da sua marca favorita e seu isqueiro Zippo totalmente vermelho com uma suástica preta e jogou no bolso da frente da capa. Em outra gaveta, pegou suas palhetas do Sex Pistols e guardou no bolso, colocou uma corrente com um cadeado que sua última namorada havia lhe dado e, por fim, usando o spray de graffiti que seu amigo emprestou, pichou em sua parede “Lembraram de mim?”.
- Quer saber? Foda-se essa merda – Rabiscou três palavras numa folha, arrancou e prendeu uma fita adesiva no fundo – Se duvidar, eles nem vão ler mesmo... – Dizia para si mesmo.
Abriu uma gaveta, pegou uma parte do dinheiro que havia roubado e não tinha usado, colocou dentro da capa do violão, pegou seu maço de cigarros da sua marca favorita e seu isqueiro Zippo totalmente vermelho com uma suástica preta e jogou no bolso da frente da capa. Em outra gaveta, pegou suas palhetas do Sex Pistols e guardou no bolso, colocou uma corrente com um cadeado que sua última namorada havia lhe dado e, por fim, usando o spray de graffiti que seu amigo emprestou, pichou em sua parede “Lembraram de mim?”.
Colocou a capa do violão nas costas, saiu pelo quarto, trancando a porta atrás de si, desceu as escadas, entrou na cozinha e encarou a geladeira. Na porta havia uma foto transformada em ímã com a família há alguns anos atrás. Pegou o bilhete que escreveu e pendurou abaixo da foto, sentiu orgulho da sua imensa criatividade, nunca pensou que um simples “ODEIO TODOS VOCÊS” seria tão belo. Abriu a porta da cozinha e saiu andando pela rua deserta, por sorte havia trazido seu casaco, porque ainda nevava um pouco. Olhou para o céu e sorriu, finalmente estava livre.